Sentido da vida

Roberto estava na estação espacial, cochilando, quando foi acordado e recebeu ordens para fazer um reparo do lado de fora. Ele ficou irritado por terem interrompido um sonho onde aproveitava um belo dia de sol em uma praia.

Dentro de seu traje espacial, Roberto flutuava no Espaço, mas antes de chegar ao local do reparo, um pequeno ponto de luz, como se fosse um vagalume, apareceu em sua frente.

Roberto tentou pegar aquele floquinho iluminado, mas ele se expandiu de uma vez, quase cegando o astronauta.

Quando abriu os olhos, Roberto viu um ser translúcido, com formas que lhe pareciam bem femininas. Aquela imagem fantasmagórica se aproximou e retirou o capacete de Roberto. Ele entrou em pânico.

— Respire! — disse a visão.

Roberto percebeu que conseguia respirar no Espaço, sem o capacete. O ser foi tomando forma e o astronauta chorou diante da beleza da mulher que estava à sua frente.

— Quem é você? — perguntou o pequeno humano.

— Sou tudo que existe, tudo que já existiu e tudo que ainda irá existir.

— Você é Deus?

— O que sou, agora, é uma manifestação de parte de algo que você jamais compreenderá em sua totalidade. Mas não vim para explicar o que você não pode entender, vim para responder a pergunta que te acompanha por toda a vida.

— Qual pergunta? São tantas…

— A pergunta que te fez sair da Terra e arriscar a própria vida, no Espaço. — A mulher levitava imponente na frente do astronauta. Ele se perdeu na beleza dela por um instante, então se lembrou do que o levou a escolher aquela profissão.

— Qual é o sentido da existência?

— À sua espécie foi dado o livre arbítrio e o poder de criar. Assim, você é livre para escolher no infinito o que te motiva, ou seja, cabe a você determinar qual é o sentido da sua existência.

— Isso é muito vago. Então fomos criados de forma aleatória, pra viver de forma aleatória? Tem que haver um sentido maior pra nossa existência!

— Acabei de dizer que você é livre para fazer o que quiser com a existência que lhe foi dada e você me questiona, exigindo que eu lhe dê um sentido para existir? Percebe o que isso significa?

— Essa pergunta me causou muita angústia e muita depressão durante a vida. Por isso a sua resposta, pra mim, é inaceitável.

— O que vejo diante de mim é alguém que nasceu livre, mas se angustia com a liberdade e deseja profundamente ser um escravo.

— Que loucura é essa?

— Você me pede para dar um sentido à sua existência, se eu fizesse o que me pede, isso seria uma ordem que você seria obrigado a executar, sem o direito de contestar. Isso faria de você um escravo. — Roberto ficou pensativo.

— Acabei de entender a causa da minha angústia — disse Roberto, a mulher sorriu.

— Então me diga. Qual é a causa da sua angústia?

— Minha angústia não é o fato de não existir um sentido específico para a minha existência, mas sim o fato de não existir um sentido que me seja imposto e ao qual eu possa me opor e me rebelar.

— Vocês já foram escravos, mas agora são livres, só não entenderam isso ainda, por isso ainda sentem falta de um senhor, sentem falta de obedecer ordens. Vocês ainda sentem o peso da escravidão, ainda estão condicionados, nela, mas quando quiser ver a face do tirano que te oprime, do senhor que governa a sua vida… se olhe no espelho.

Roberto acordou assustado, com barulhos de alarmes e pessoas conversando dentro da estação espacial. Ele se aproximou de um grupo que discutia entre si.

— O que aconteceu?

— Ah! Um problema lá fora e ninguém quer sair pra resolver. — Um astronauta disse. Roberto olhou o Espaço pela janela e sentiu saudades de casa.

— Avisem à base que estamos retornando para a Terra.

Livro completo disponível na Amazon e no Clube de autores.

Deixe um comentário